terça-feira, 25 de agosto de 2009

Entrevista com Paulo Rebelo

RHD: Boa tarde Paulo! Em primeiro lugar quero agradecer por ter aceitado o nosso convite para falar um pouco sobre a importância da inclusão social de pessoas com deficiência nas organizações.Como nasceu a idéia de escrever o livro “A pessoa com deficiência e o trabalho”?
Paulo Rebelo: O livro supre a necessidade de organizar uma coletânea de informações, documentos e orientações a respeito do tema, que possibilitasse um aprofundamento de conhecimentos e ao mesmo tempo fomentasse a atuação multidisciplinar que o assunto exige.

RHD: Nos últimos tempos, os movimentos sociais têm ganhado força no meio corporativo. O “título” de uma empresa socialmente responsável está sendo cada vez mais almejado. Fale-nos um pouco sobre essa realidade.
Paulo Rebelo: As transformações sociais e a globalização exigem nova postura no mundo dos negócios. Consolidou-se a cultura de produção com responsabilidade sócio-ambiental que foi definitivamente inserida como valor e, portanto, incluída nas estratégias de negócio das empresas. Deixou de ser um valor intangível para fazer parte dos ativos para empresas. Por outro lado, a sociedade não mais aceita a discriminação. O poder público promulgou legislação inclusiva e as pessoas com deficiência dispõem de meios para busca seus direitos. Não basta produzir bens, serviços e produtos com qualidade. É necessário cuidar também dos processos produtivos e do ciclo de vida dos produtos. A visão agora é sistêmica, integrada, responsável, com ética e de longo prazo.

RHD: Em seu livro você fala sobre a Classificação de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF), publicada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) em 2001. Como ela se define?
Paulo Rebelo: As disfunções podem atuar como facilitadores ou barreiras para o desempenho das atividades de um indivíduo e determinam o que o ele pode ou não fazer no seu dia-a-dia. A nova CIF representa uma mudança de paradigma, adotando uma abordagem positiva da deficiência e da incapacidade, ao considerar as atividades e a participação social que o indivíduo com deficiência pode desempenhar, em substituição ao enfoque da avaliação da incapacidade que corresponde ao aspecto negativo, que é a resultante da interação entre a disfunção apresentada pelo indivíduo, a limitação de suas atividades, a restrição na participação social, e os fatores ambientais.
A abordagem indicada é aquela que considera o aspecto biopsicossocial, que incorpora os componentes de saúde nos níveis corporal e social, com base na interação das dimensões biomédica, psicológica e social.

RHD: Sabemos que todo processo de avaliação em medicina do trabalho tem interface com o RH.Tratando-se do trabalhador com deficiência, são necessárias algumas ações específicas.Quais merecem destaque?
Paulo Rebelo: Em geral, os processos de avaliação de RH e Medicina do Trabalho, buscam identificar o individuo mais adequado para realizar a atividade. Quando a avaliação é referente a uma pessoa com deficiência, busca-se otimizar a capacidade residual, evitar o agravamento da deficiência e adaptar o local de trabalho para garantir acessibilidade. Outro ponto muito importante é prepara os colegas de trabalho, as instalações e os processos de trabalho para receber o colega. Mas, não se pode ter a falsa impressão que o processo está concluído na admissão. Há a necessidade de acompanhamento ao longo do tempo, pois novas adaptações e avaliações podem vir a ser necessárias.