domingo, 10 de fevereiro de 2008

Leia na íntegra a entrevista do Dr. Miguel Ângelo Baez Garcia

Após ler a entrevista, responda nos "comentários" deste post a seguinte pergunta:

Sua empresa está pronta para contratação de trabalhadores ditos "idosos"?



RHDebates: Como foi que surgiu a idéia de fazer um livro sobre a participação dos idosos no mercado de trabalho?
Dr. Miguel Ângelo Baez Garcia: Foi a partir da união de duas correntes médicas que eu pratico no dia a dia (medicina do trabalho e geriatria). Pode parecer engraçado, mas os meus pacientes começaram a “envelhecer” e a maior preocupação deles sempre foi a de perder a autonomia. Todos se sentem ativos e têm projetos de vida a desenvolver. Alguns querem permanecer no mercado de trabalho outros querem empreender e experimentar novas idéias.

RHD: Existe alguma pesquisa no Brasil sobre os números desta participação do idoso no mundo corporativo, como empregados ou empreendedores? Esta é uma tendência mundial?
Dr.MABG: Em 1992 quando estava fazendo minha tese sobre acidentes de trabalho, percebi que já começavam a surgir algumas notificações oficiais da previdência social em trabalhadores acima de 60 anos. Entretanto os dados sobre as atividades laborais ainda são insuficientes e subnotificados já que grande parte dos idosos estão na informalidade. Dados como os do ipea e da fierj dão conta da participação do idoso tanto para a manutenção da renda como para a satisfação pessoal. Desde a última década do século passado que os desafios apresentados pelo envelhecimento da força de trabalho na europa desencadearam uma série de propostas para a utilização do trabalho do idoso tanto por parte dos governos quanto dos parceiros sociais (empresas e trabalhadores). A participação crescente deste grupo de trabalhadores no mercado de trabalho é vista como um fator de primordial importância para se atingir um desenvolvimento econômico e social!
l mais sustentável na união européia. A partir desta concepção, uma série de iniciativas políticas no intuito de apoiar uma maior longevidade das vidas profissionais e uma entrada mais tardia na aposentadoria e à aplicação futura da oferta de mão-de-obra deram motivo a novas legislações.

RHD: Em sua opinião, as empresas têm alguma resistência ou preconceito na contratação de maiores de 65 anos? Por quê?
Dr. MABG: Acho que chegou a hora de se dismistificar a falta de capacidade do idoso. Para o idoso existe um lugar e uma posição específica para o trabalho, já descoberta e em adaptação por algumas grandes empresas. É necessário se pesquisar mais e se identificar quais os melhores setores para atuação do idoso.

RHD: As empresas conhecem o Estatuto do Idoso?
Dr.MABG: Sim conhecem, entretanto alguns vícios fazem a população ter uma idéia errônea do trabalho do idoso. Por exemplo, quem nunca assistiu uma cena triste nas filas de bancos quando um idoso se apresenta com diversas contas bancárias que não são suas e passa a frente de todos porque tem prioridade? Lógico que isto é um desrepeito ao estatuto que serve para a proteção do idoso e neste caso está protegendo aos “espertos”.

RHD: Quais são as doenças que mais atingem os idosos no ambiente do trabalho? Como evitá-las?
Dr.MABG: Ainda há muito a se pesquisar sobre as doenças do idoso no trabalho. O conceito de saúde no trabalho está fundamentado na utilização de atributos eficazes de bem-estar e equilíbrio que permite aos idosos disposição para realizarem determinadas tarefas da vida diária e da vida laboral diária com sucesso, quando ocorrem descontroles ocupacionais, aí se instalam ou se agravam as doenças pré existentes. A manutenção da capacidade intelectual é de suma importância na sustentação de todos os aspectos da saúde. No decurso da vida, a cultura adquirida, as técnicas desenvolvidas, os hábitos adotados, as atitudes individuais, os desempenhos pessoais, as alternativas escolhidas e os costumes e tradições familiares tem influência na vida privada e na vida laboral.

RHD: Em seu livro o Sr. Comenta sobre o assédio moral e a violência contra o idoso no ambiente corporativo. Estas práticas ainda acontecem, mesmo com a crescente presença dos idosos nas empresas?
Este é um tema muito árido, mas, a violência contra o idoso, infelizmente, está em todo lugar! Muitas vezes vem disfarçada e sob forte contexto psicológico, visando atingir a auto-estima do idoso. É o assédio moral! Que é cometido por aqueles que se acham superiores na força ou no poder. Alguns acham que “o idoso só ocupa lugar”, “que é mole e improdutivo” e que “tem vantagens extras”. Este tipo de visão é um absurdo! O governo e as empresas devem tomar medidas para combater a discriminação em relação aos trabalhadores mais velhos. É necessário se evitar que os estereótipos negativos se disseminem pelo ambiente de trabalho. O idoso tem muito a contribuir por isto o idoso deve ter sempre em mente o “seu projeto de vida” e a paixão pelo trabalho que está realizando.

RHD: O que é parceria social no trabalho? Como a empresa pode participar?
Dr.MABG: Tanto as condições de trabalho, aí incluidas o ambiente laboral com adequabilidade das barreiras arquitetônicas, novos turnos, nova visão de saúde e as oportunidades de emprego devem ser adequadas a uma força de trabalho distribuida em novas faixas etárias. A parceria social no trabalho inclui obrigatoriamente a participação da empresa sem a qual não se implanta nenhum programa. As empresas devem começar a pensar que tipos de atividade podem oferecer a este mercado cada vez mais crescente. Já estão em tramitação no congresso nacional, diversas legislações incentivadoras da contratação de idosos, principalmente os de baixa renda (até r$3.000,00) por considerar que os de melhor poder aquisitivo continuarão a trabalhar devido a experiência que possuem.

RHD: E por último: quais são suas recomendações para as empresas se prepararem para a chamada "Era da Longevidade", quando cada vez mais profissionais acima de 65 anos estão economicamente ativos na sociedade?
Dr.MABG: Nos próximos 20 anos, a idade média da população laboral ativa aumentará. O desafio que se apresenta para a nossa sociedade é o incremento das capacidades e da empregabilidade dos trabalhadores mais idosos. É importante cuidar da manutenção da saúde, desenvolver a motivação para novas práticas tecnológicas e ampliar as competências dos trabalhadores à medida que envelhecem.

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